quinta-feira, 30 de abril de 2020

EMICIDA, contando e encantando

Amoras

Amoras é o primeiro livro escrito por Emicida, nome pelo qual é conhecido Leandro Roque de Oliveira, cantor, compositor, produtor musical e desenhista; e conta com ilustrações de Aldo Fabrini.

Rapper conceituado, Emicida demonstra através das letras de suas músicas, de seus clipes bem como das entrevistas, muitas disponíveis no youtube, seu comprometimento com a luta antirracista.

Amoras foi inspirado em um rap homônimo que faz parte de um disco do rapper intitulado Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa (2015).

O livro apresenta uma narrativa encantadora que, segundo o escritor, nasce de um diálogo dele com a filha, embaixo de uma amoreira na casa da mãe dele.

Utilizando a poesia, o narrador, passeia pela religiosidade, pelas grandes personalidades negras e pela simplicidade do pensamento da criança, para falar de autoestima e construção de identidade negra. A narrativa indireta, que se inicia falando da pureza do pensamento das crianças e ganha contornos pessoais no momento em que se estabelece uma proximidade entre o narrador e a “pequena” que o acompanha no pomar, e ela, na comparação com as amoras, chega à conclusão que ser “pretinha” é muito bom.

A narrativa traz, a partir do pensamento puro da criança, que passeia com seu pai, uma analogia entre sua identidade e a da fruta, amora.

O texto, escrito em versos, segue apresentando correlações: “olhar puro e profundo” – “que nem Obatalá”; “pensamentos dos pequenos” surgem “com olhos de jabuticaba e cabelos de nuvem”; “Amoras penduradas a brilhar,” – “quanto mais escuras, mais doces”. São comparações que positivam vocábulos relacionados à cultura negra: "Obatalá", "cabelos", "escuras". A semântica do racismo estrutural desqualifica vocábulos associados à negritude. A própria palavra “negro” teve que ser ressignificada pelo movimento negro.

A religiosidade surge com Obatalá, apresentado no glossário como o grande orixá, passa por Alá, também presente no glossário como “designação muçulmana de Deus”, e termina, chamando as pessoas à reflexão: “Nesse planeta,/Deus tem tanto nome diferente/que, pra facilitar, decidiu morar/no brilho do olho da gente.”

A narrativa ostenta, ainda, grandes nomes da história negra: Muhamad Ali, boxer e ativista social; Martin Luther King Jr., ativista na luta dos direitos civis dos Estados Unidos; Zumbi dos Palmares, herói negro brasileiro, símbolo da resistência negra.

A descoberta da “pequena” é forte como Muhamad Ali, é gentil como Martin Luther King (luta, a exemplo de Gandhi, de não enfrentamento) e faria Zumbi acreditar que “Nada foi em vão.”

A valorização da história negra se torna visível, pois, a “pequena”, ao ouvir o pai dizendo que as amoras, “as pretinhas são o melhor que há”, exclama: “Papai, que bom, porque eu sou pretinha também!”

Vale ressaltar que três versos ganham destaque: 1)“As pretinhas são o melhor que há”; 2)“nada foi em vão”; e 3)“porque eu sou PRETINHA TAMBÉM”, escritas em letras grandes, ocupando duas páginas do livro. Essas frases evidenciam que o escritor busca: 1) dignificar a autoestima negra; 2) exaltar o reconhecimento dos que nos antecederam nos enfrentamentos raciais, fortalecendo suas lutas ; e 3) colocar em pauta a construção da identidade negra positivada.

Sobre a ilustração, cabe mencionar que harmoniza com a  narrativa,  percebe-se uma composição, onde ilustração e texto se casam. A escolha das cores, a sutileza dos detalhes, como as diferentes cores das amoras. A imagem da menina, é marcada pelo palco onde mora sua imaginação: a cabeça. Há competência e energia no texto, que  a beleza das ilustrações arrematam.

Ainda sobre o escritor, é possível encontrar falas de Emicida sobre seu livro,  que merecem  destaque, pois exteriorizam o comprometimento do rapper com a luta antirracista. Em um vídeo, no youtube, Emicida esclarece: “A ideia do livro é justamente essa, correr e chegar primeiro, pra que esse vazio, essa ausência seja preenchida com uma referência bacana, bonita a respeito deles mesmos, de nós, sacou! A partir do momento que você tem essa referência, você ta um pouco mais forte para enfrentar as maldades do mundo.”

(https://www.youtube.com/watch?v=3czQelua5nA&t=313s 0min40ss)

A narrativa de Emicida tem intencionalidade, ele tem consciência dos malefícios do racismo, como se pode perceber na sequência de sua fala, no mesmo vídeo: “(...) Amoras, é um incentivo pra que, quando essas crianças se olharem no espelho, e elas vão se deparar com o racismo na prática antes do que na teoria, porque ele antecede a teoria sempre, ta ligado! Quando esse racismo prático bater na porta delas, elas vão estar um pouco mais fortalecidas” (4min09ss).

Amoras, é literatura negra, de autoria negra, com ponto de vista, linguagem e temática negra.  O público negro se identifica nela e, certamente auxilia  o público branco a repensar alguns de seus paradigmas.

 E.é uma alegria trazer para esse blog, Amoras de Emicida. E, é dele as palavras que encerram essa pequena resenha, lembrando a importância de ler, de presentear, de estudar literatura negro-brasileira:  “Nossa vitória é distribuir esses 'sempres' e demolir esses 'nuncas', que destroem nosso imaginário desde muito pequenos. Então, creio eu, que essa é a importância da representatividade. A partir do momento que você conta a história, e a pessoa se vê nela, nesse caso, as crianças, ela também passa a crer que tem lugar nesse mundo e que tem uma importância tremenda.” (Emicida, Entrevista à Revista Crescer)

(https://revistacrescer.globo.com/Diversao/Livros/noticia/2018/10/emicida-fala-sobre-amoras-seu-primeiro-livro-infantil.html)

EMICIDA. Amoras. Iustrações Aldo Fabrini. São Paulo: Companhia das letrinhas, 2018

 Proposta de Atividades
1.    1.   Escreva uma pequena biografia sobre Martin Luther King, Muhammad Ali e Zumbi dos Palmares, contendo os seguintes dados: Nome, data e local  de nascimento, três fatos sobre a vida deles que te chamou atenção. (depois da pesquisa, reunir as(os)  alunas(os) em grupo e cada um lê, partilhando os fatos e, em seguida completando as biografias, utilizando os dados novos compartilhados pelos colegas.
2.      2. Quais as religiões que você conhece? Liste três.
3.     3. Pesquise no Glossário o significado de: Obatalá, África e Quilombo.
4. Trabalhar com letras de músicas: Mulheres Negras,Yzalú (Fundamental II); Bate a poeira, Karol com K (fundamental I); Boa Esperança, Emicida (Ensino Médio)

5. Encontre os 5 erros





sexta-feira, 17 de abril de 2020

O mundo de Oyá: Proposta de atividade

1. Cruzadinha
2. Pesquisa
Solicitar as crianças que pesquisem o significado da palavra Ijexá

Conheça O mundo de Oyá








“O Mundo de Oyá” marca a estreia de Gisele Marques ao mundo encantado de histórias para serem contadas e recontadas. Ilustrado por Iris Palo, o livro é uma narrativa que apresenta uma garotinha curiosa chamada Oyá, que usa tererês coloridos.
Um dia, a professora pergunta a Oyá e seus colegas de turma o que eles queriam ser quando crescessem, Oyá percebe que não tem resposta para essa pergunta. Quando a professora Kai, de educação física diz que ela se parece com um elástico, resolve que quer ser elástico quando crescer. E agora? Como saber o que faz um elástico?
Oyá pergunta para a avó, que meio sem entender responde que elástico serve pra prender ceroulas, o que deixa a menina triste e pensativa. Porém, a professora Kai irá explicar a Oyá que ao compará-la a um elástico estava falando de sua flexibilidade e a leva a um estúdio de dança. Ao ver as meninas dançando Oyá finalmente descobre o que quer ser quando crescer.

“O mundo de Oyá” é uma narrativa que apresenta valores como ancestralidade e pertencimento, onde o ponto de vista, a linguagem, o ritmo, a autoria demarcam uma escrita afro-brasileira. A arte educadora, que em sua trajetória artística valoriza ritmos e palavras da história e cultura afro-brasileira, oferece aos leitores sua arte e seu comprometimento em formato de livro.

MARQUES, Gisele. O mundo de Oyá. Ilustração de Iris Palo. Florianópolis: 2017.


terça-feira, 7 de abril de 2020

Livro de Solange Adão

Resenha do livro "A casa do meu avô"

Acostumada a lidar com textos literários no palco, Solange Adão,  estreia no mundo da literatura com o livro “A casa do meu avô”. O livro é ilustrado por Bruno Barbi.
“A casa do meu avô” tem aroma e sabor de ancestralidade. A escritora traz a aproximação da protagonista com seu avô e sua herança africana, através de cheiros, gostos, religiosidade, musicalidade, linguagem. A apresentação da protagonista não acontece no início da história, ou seja, é seu avô, a casa dele e muitas lembranças que marcam o início da narrativa; depois acontece a introdução da protagonista, Antonieta, salientando que seu nome foi “em homenagem a primeira deputada negra de Santa Catarina”.
Antonieta é filha de Iansã. No desenrolar da história vai mostrando sua família, identificando-os com os orixás e conversando sobre seus significados. Fala da relação de seu avô com as ervas medicinais.
O carinho de Antonieta por seu avô está presente na obra:
“Meu avô é tão bonito!!!”
Além de falar do avô materno, também irá apresentar seu avô paterno. Ao apresentá-lo, fará menção as diferenças entre umbanda e candomblé. As religiões de matrizes africanas e a relação familiar são o fio condutor da narrativa.
“A casa do meu avô” é um texto literário que apresenta valores como ancestralidade e pertencimento, onde o ponto de vista, a linguagem, o ritmo, a autoria demarcam uma escrita afro-brasileira. A arte educadora, que em sua trajetória na arte e na educação sempre esteve comprometida com a cultura negra, oferece aos leitores sua arte engajada em formato de livro.

ADÃO, Solange. A casa do meu pai.Ilustração de Bruno Barbi. Florianópolis, SC. Ed. Cruz e Sousa

Reconhecendo a Literatura afro-brasileira #literaturaafrobrasiliera #cnncotidianonegro

A partir do meu doutorado, concluído em 2014, resolvi me dedicar a Literatura Negro-brasileira. Hoje, estou inciando, nesse espaço, atividades que terão a Literatura Negro-brasileira, assim denominada por Luis Silva (o escritor Cuti) como foco.  Dessa forma, considero importante, dizer de que literatura estou falando.
 Eduardo de Assis Duarte (2012) diz que o conceito de literatura afro-brasileira está em construção. De 2012 até os dias atuais, venho pensando sobre esse conceito; quero, portanto, aproveitar esse espaço para externar sobre minhas conclusões: primeiramente, dizer que utilizarei a denominação cunhada por Cuti, falarei, portanto, sobre Literatura Negro-brasileira.
Pretendo utilizar esse espaço para publicar resenhas de livros de escritoras/es negras/os. 

Antonieta nas palavras de Eliane Debus


Resenha do livro "Antonieta" de Eliane Debus

“Quem é Antonieta de Barros? Chega pertinho que eu te conto...”(DEBUS, Eliane S. D,, 2019)
 Eliane Santana Dias Debus professora e pesquisadora de literatura infantil e juvenil  apresenta para crianças, jovens e adultos Antonieta de Barros  em um livro encantador. Com ilustrações de Annie Ganzala,  o livro inicia lembrando os espaços que levam o nome de Antonieta de Barros. A linguagem poética permeia o texto, uma biografia poética, fruto de um trabalho de pesquisa, que traz o pseudônimo de Antonieta criança, que apresenta sua família e seu percurso de mulher negra, que, no cenário masculino e branco deixa sua marca. A escritora, Eliane Debus,  cuja trajetória é marcada pelo convívio com a literatura infantil e juvenil e com a pesquisa, consegue unir esses dois elementos nesse livro. A vida de Antonieta, da infância à morte, é retratada, possibilitando ao leitor conhecer Antonieta menina, Antonieta jovem professora, Antonieta escritora, Antonieta deputada, Antonieta que se eterniza como nome de rua e de túnel. No final do livro, a escritora traz uma cronologia de Antoniete de Barros, com detalhes que legitimam o texto literário, ao mesmo tempo em que auxiliam  o leitor a (re)conhecer Antonieta de Barros como personalidade catarinense e brasileira. Se os textos teóricos já denunciavam a paixão da escritora pela literatura, “Antonieta” confirma essa paixão, um texto que se inscreve no contexto da literatura afro-brasileira que inspira e empodera crianças, jovens e adultos negros/as.
DEBUS, Eliane. Ilustrações GANZALA, Annie. Antonieta. Tubarão. Copiart,2019
Venda de livros com a autora.