terça-feira, 25 de agosto de 2020

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"Canto para a Mãe África" é um dos 74 poemas do livro Terra Negra, da escritora e atriz Cristiane Sobral.

A primeira orelha, a contracapa e o prefácio são assinados por Elisa Lucinda. Da primeira orelha, ressalto as seguintes palavras de Elisa Lucinda: "Observai bem, respeitável público leitor, a cadência desta poesia singular que prova com sua feitura nítida o quanto a poesia é interdisciplinar. Falando a partir de sua ilha, de seu manancial rico, de seu observatório é que a poeta ou poetiza nos dá aula de tudo. É a matéria que ainda falta nas salas de aula, nos programas de TV de uma nação que insiste em olhar o seu povo com a mesma antiga e desatualizada miopia da Casa Grande."

Precedendo o prefácio, encontra-se um trecho do livro Vivendo de amor, da escritora americana Bell Hooks.

O prefácio recebe o nome de "A Carta da Terra", e nele Elisa Lucinda tece palavras que não cabem em uma resenha, precisam ser lidas, exploradas e sentidas, pois enunciam o que está por vir nos poemas de Sobral. Transcreverei apenas um pedacinho dessas palavras, tecidas por Elisa Lucinda “Sou cria da poesia e foi ela quem muito cedo, formatou minha subjetividade e me ofereceu esse destino. Por isso escrevo numa tarde em que Terra negra fez do meu coração território. Sabedora de seu poder, mas sem alardeá-lo na obviedade, Crisitiane Sobral nos desnuda com uma poesia cheia de personalidade, cores, aromas, densos enredos e escreve como tribo. Conhecedora. Caminha sem solidão porque traz as hordas dos povos em diáspora inebriados e entrelaçados em sua narrativa ética, estética e caudalosa.”

Se ela se inebria pela escrita dos poemas que fazem parte desse livro, o mesmo aconteceu comigo. São poemas longos, curtos, deliciosos (não vou utilizar a teoria literária para descrevê-los, mas a emoção).

O livro Terra Negra traz poemas banhados de ancestralidade, tal como o que apresento aqui, e nos quais ainda posso citar "Águas de cura" (p. 84), "Pretei" (p.72), "Quem sou eu" (p.62). Denúncia, podemos encontrar nos poemas: "Além da cor" (p. 91), "Traumatismo social" (p. 95), "Navio Negreiro - Atenção não é a Disney" (p. 97), "A serviço do capital" (p.81).

A leitura desse livro possibilita encontros (e, quem sabe, para alguns, desencontros e reflexão). Um livro para os que se dizem antirracistas experienciarem. Um livro onde poemas "negro-brasileiros” desfilam, escorrem, dando-nos (enquanto negras) um lugar de pertença e permitindo a todes (chamo atenção, principalmente, aos que a melanina não marcou com as dores do passado) que se instalam no universo antirracista a possibilidade de atentar sobre seus privilégios e perceber o quanto cada poema tem a dizer e a contribuir para a desconstrução de paradigmas e estereótipos de nossa sociedade.

Este é o livro: SOBRAL, Cristiane. Terra Negra. Rio de Janeiro: Malê, 2017.

 

SUGESTÕES DE ATIVIDADES

1. Você já ouviu falar nas Amazonas do Daomè? No site https://www.geledes.org.br/amazonas-de-daome-as-mulheres-mais-temidas-do-mundo/, encontraremos a imagem do exército de mulheres do filme Pantera Negra em reportagem sobre as Amazonas do Daomé. Visite o site e descubra porquê. (Se você não assistiu filme, fica a dica!

2. Converse com seu professor de história sobre Tumbuctu. (Para professores de outras disciplinas, sugiro um projeto interdisciplinar sobre Tumbuctu, império Ashanti, reino do Daomé e os instrumentos musicais citados pelo poema.)