"Canto
para a Mãe África" é um dos 74 poemas do livro Terra Negra, da escritora e atriz
Cristiane Sobral.
A
primeira orelha, a contracapa e o prefácio são assinados por Elisa Lucinda. Da
primeira orelha, ressalto as seguintes palavras de Elisa Lucinda:
"Observai bem, respeitável público leitor, a cadência desta poesia
singular que prova com sua feitura nítida o quanto a poesia é interdisciplinar.
Falando a partir de sua ilha, de seu manancial rico, de seu observatório é que
a poeta ou poetiza nos dá aula de tudo. É a matéria que ainda falta nas salas
de aula, nos programas de TV de uma nação que insiste em olhar o seu povo com a
mesma antiga e desatualizada miopia da Casa Grande."
Precedendo
o prefácio, encontra-se um trecho do livro Vivendo de amor, da escritora americana Bell
Hooks.
O
prefácio recebe o nome de "A Carta da Terra", e nele Elisa Lucinda
tece palavras que não cabem em uma resenha, precisam ser lidas, exploradas e
sentidas, pois enunciam o que está por vir nos poemas de Sobral. Transcreverei
apenas um pedacinho dessas palavras, tecidas por Elisa Lucinda “Sou cria da
poesia e foi ela quem muito cedo, formatou minha subjetividade e me ofereceu
esse destino. Por isso escrevo numa tarde em que Terra negra fez do meu coração
território. Sabedora de seu poder, mas sem alardeá-lo na obviedade, Crisitiane
Sobral nos desnuda com uma poesia cheia de personalidade, cores, aromas, densos
enredos e escreve como tribo. Conhecedora. Caminha sem solidão porque traz as
hordas dos povos em diáspora inebriados e entrelaçados em sua narrativa ética,
estética e caudalosa.”
Se ela se
inebria pela escrita dos poemas que fazem parte desse livro, o mesmo aconteceu
comigo. São poemas longos, curtos, deliciosos (não vou utilizar a teoria literária
para descrevê-los, mas a emoção).
O livro Terra
Negra traz poemas banhados de ancestralidade, tal como o que apresento aqui,
e nos quais ainda posso citar "Águas de cura" (p. 84),
"Pretei" (p.72), "Quem sou eu" (p.62). Denúncia, podemos encontrar
nos poemas: "Além da cor" (p. 91), "Traumatismo social" (p.
95), "Navio Negreiro - Atenção não é a Disney" (p. 97), "A
serviço do capital" (p.81).
A leitura
desse livro possibilita encontros (e, quem sabe, para alguns, desencontros e
reflexão). Um livro para os que se dizem antirracistas experienciarem. Um livro
onde poemas "negro-brasileiros” desfilam, escorrem, dando-nos (enquanto
negras) um lugar de pertença e permitindo a todes (chamo atenção,
principalmente, aos que a melanina não marcou com as dores do passado) que se
instalam no universo antirracista a possibilidade de atentar sobre seus
privilégios e perceber o quanto cada poema tem a dizer e a contribuir para a
desconstrução de paradigmas e estereótipos de nossa sociedade.
Este é o
livro: SOBRAL, Cristiane. Terra Negra. Rio de Janeiro: Malê, 2017.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
1. Você já ouviu falar nas Amazonas do Daomè? No site https://www.geledes.org.br/amazonas-de-daome-as-mulheres-mais-temidas-do-mundo/, encontraremos a imagem do exército de mulheres do filme Pantera Negra em reportagem sobre as Amazonas do Daomé. Visite o site e descubra porquê. (Se você não assistiu filme, fica a dica!
2. Converse com seu professor de história sobre Tumbuctu. (Para professores de outras disciplinas, sugiro um projeto interdisciplinar sobre Tumbuctu, império Ashanti, reino do Daomé e os instrumentos musicais citados pelo poema.)